quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Teologia de Fátima - Revelação do Segredo - 13 de maio de 2000.



Comentário Teológico elaborado pelo Cardeal Joseph Ratzinger, atual Papa Bento XVI, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé na ocasião. (13 de maio de 2000)


Quem lê com atenção o texto do chamado terceiro ‘segredo’ de Fátima, que depois de longo tempo, por disposição do Santo Padre, (...) ficará presumivelmente desiludido ou maravilhado depois de todas as especulações que foram feitas. Não é revelado nenhum grande mistério; o véu do futuro não é rasgado. Vemos a Igreja dos mártires deste século que está para findar, representada através duma cena descrita numa linguagem simbólica de difícil decifração.A doutrina da Igreja distingue ‘revelação pública’ e ‘revelações privadas’. (...) ‘revelação pública’ designa a ação reveladora de Deus que se destina à humanidade inteira e está expressa literariamente nas duas partes da Bíblia: o Antigo e o Novo Testamento. (...) em Cristo Deus disse tudo de si mesmo, e portanto a revelação ficou concluída com a realização do mistério de Cristo, expresso no Novo Testamento.

Ouçamos o que diz o Catecismo da Igreja Católica sobre isto também: “No decurso dos séculos tem havido revelações ditas ‘privadas’, algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. (...) O seu papel não é (...) ‘completar’ a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente numa determinada época da história (n.67).

A revelação privada, como a de Fátima, é um auxílio para esta fé, e manifesta-se credível precisamente porque faz apelo à única revelação pública, a Sagrada Escritura. (...) É uma ajuda que é oferecida, mas não é obrigatório fazer uso dela.(...) É preciso ter presente que a profecia, no sentido da Bíblia, não significa predizer o futuro, mas aplicar a vontade de Deus ao tempo presente e consequentemente mostrar o reto caminho do futuro. (...) O profeta vem em ajuda da cegueira da vontade e do pensamento, ilustrando a vontade de Deus enquanto exigência e indicação para o presente.

Os diversos acontecimentos, na medida em que lá são apresentados, pertencem já ao passado. Quem estava à espera de impressionantes revelações apocalípticas sobre o fim do mundo ou sobre o futuro desenrolar da história, deve ficar desiludido. Fátima não oferece tais satisfações à nossa curiosidade, como, aliás, a fé cristã em geral que não pretende nem pode ser alimento para nossa curiosidade. O que permanece (...) é a exortação à oração como caminho para a ‘salvação das almas’, e ao mesmo sentido o apelo à penitência e à conversão.


JOSEPH Cardeal RATZINGER

Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.Nosso atual e amado Santo Padre, o Papa Bento XVI.

Nenhum comentário: